Sauna viva

Aléxis acordou no local sentindo muito calor.

Na extremidade da piscina, a curiosa figura esbranquiçada permanecia inerte olhando-a, estava nu. Seu busto largo coberto por finos fios de cabelos roxos exposto.
— Merda? — Indagou. — Isto è vômito, senhorita. — Apontou, soltando as costas do mármore; engatinhava como um bebê em sua direção, sua silhueta nua beirva a perfeição feminil.

Na ponta do vômito que boiava, os dedos de unhas pintadas tomaram o rosto da mulher, e deu-a, em seus lábios sujos e secos, um longo beijo molhado. Aquele que veio repleto de piedade e magia, Aléxis sentira-se bem, de certa forma, após o mesmo.

Ainda naquela posição, Lya a largou. E sorriu, um sorriso mórbido na feição pálida.

Por uma fração de segundos, pensei ter ouvido algo. Uma voz. Olhei rapidamente na direção do que ouvira, tendo quase certeza que estava tendo alucinações. Mas para minha surpresa, sem saber se isso seria era bom ou ruim, realmente havia alguém ali.

Mesmo com a visão um tanto turva, consegui enxergar que se tratava de uma mulher, ao cerrar os olhos. Ela se esgueirou até mim e, no momento seguinte, nossos lábios se tocaram.

Sem saber explicar como, aquele beijo me dera a sensação de estar me sentindo melhor. Ou talvez, eu realmente me sentia melhor. Enquanto nos beijávamos, apesar de meu corpo continuar dolorido, minha vertigem e dor de cabeça iam diminuindo e algo ia preenchendo-me.

Ela cessou o beijo e, já levemente inclinada para seu lado, abri os olhos. Minha visão já não mais turma permitiu-me vê-la; seu corpo que estava nu parecia ter sido cuidadosamente esculpido pela mais branca pedra que eu poderia imaginar, e seu sorriso mórbido combinava perfeitamente com ele.

Pisquei os olhos, sentindo falta da sensação de momentos antes e, sem saber bem o que eu estava fazendo, semicerrei os olhos e inclinei-me mais para frente, tocando novamente os lábios que me sorriam.

No lugar de seus lábios, tocaram-lhe a mão pálida, estendida a frente em um ato gélido de negação.
— Não. — Os lábios, distantes, moveram-se por trás dos dedos. — Um desses já é o suficiente, a não ser que queira dar-me um dos seus com outros motivos do que o principal, senhorita. —

E então, começando a recuar para trás ainda de quatro, sentou por cima de seus pés, fitando-a com a mesma serenidade. — Qual é o seu nome? —

- E qual seria o motivo principal? - Observei-a se afastar sem mover-me um centímentro sequer. - Me chamo Aléxis. E você? -

— É claro que o motivo principal é que se sinta melhor, bobinha. — O sorriso curvou-se maior neste instante, e retornou. — Você deve me chamar de Lya. —

- Lya. - Repeti o nome enquanto me sentada adequadamente. Abaixei os olhos, parando para refletir um momento. Respirei fundo antes que pudesse encara-la novamente. - Por que uma pessoa que provavelmente não me conhece faria tal esforço para que eu me sentisse bem e, como sabia que eu estava aqui, sem que eu mesma saiba como cheguei até aqui? Não seria mera coincidência, seria? -

Os olhos ébrios pestanejaram algumas centenas de vezes antes que a boca abrisse, em fios de saliva, para falar. — No caso, seria. Irá aprender que o nosso mundo funciona com coincidências. — Respondeu, apontando para o leste, um canto afastado da piscina onde roupas negras estavam jogadas próximas a um par de botas de couro.

— Acabei de chegar, é aqui onde costumo descansar. Você estava aí, óbviamente precisando de ajuda, seus desespero fez com que não me visse chegando, isso é perigoso. E, sobre o tal esforço, um beijo não é esforço algum. — Um braço ergueu-se e a ponta rubra da unha do indicador puxou-a pelo queixo. — Em alguém como você, é um prazer. —

Fechei os olhos, deixando-me ser puxada por Lya. Assim que o movimento parou, abri os olhos, encarando os grandes órbes negros à minha frente. - Me desculpe, é que, que... - Não sabia o que dizer, no momento sentia todo o meu psicológico se dissolvendo pouco a pouco. - Eu realmente estou desesperada. -

— Perceptível. — Soltou-a, pondo as duas mãos entrelaçadas abaixo de seus próprios seios, volumando-os. — Desespero não é nada atraente, em situação alguma, Aléxis.— Riu, uma risada alegre e feminina que pulou dos lábios pintados de preto como se os mesmos fossem dignos demais para abrir.

A mulher dos cabelos roxos deslumbrava a cena estática, e, no exato momento em que ela escorregou, Lya já estava tão extremamente perto que para ela, a velocidade com que se aproximou culminaria em um susto, se suas mãos não tocassem-na tão suavemente as costas, impossibilitando o seu corpo de descer, a outra mão descansou em sua barriga enquanto ela boiava, e a cabeleira roxa úmida desceu junto com a sua cabeça, e seus lábios tocaram em sua testa.

Apenas percebi a aproximação da garota quando senti seu delicado toque em minhas costas e o beijo em minha testa, mas estava cansada o suficiente para sequer manter os olhos abertos.

- Talvez eu esteja explorando sua boa vontade. - Entrelacei meus dedos nos escorregadios fios de seu cabelo. - Mas você poderia me levar para casa?

Os lábios soltaram-se de sua testa e a mulher, ainda segurando-a firme à agua, piscou algumas diversas vezes antes de negar com um gesto rápido e confiante de cabeça.

— Não, você deve achar o caminho para casa sozinha. — Sorriu, levando os lábios aos seus novamente, trocando um curto beijo que procedeu a outros menores no pescoço e busto.

Vou diretamente para a fonte termal como um flash de luz. As roupas do meu "saco de batatas" são extremamente danificadas.
— Gostou da viagem? — Disse olhando para o meu cigarro apagado e dobrado ao meio — É aqui. Senti uma força aqui.
Olhei para as duas fêmeas na fonte termal.
— Venho aqui em trabalho. Vistam-se.

Em meio a beijos, pensava nas palavras da garota. Por mais que Lya me dissesse que eu deveria achar meu caminho sozinha, não conseguiria. Pelo menos, não por hora. Eu sequer sabia deste caminho.

Meus pensamentos cessaram quando eu ouvi uma voz masculina por perto. Tentei o mais rápido possível esconder meu corpo nu na água, mas creio que acabei sendo bem lenta.

- Quem está aí? -

— Não precisa esconder as partes do seu corpo. Não quero ver ele. Já a sua amiga.. — Olho para a outra — Deveria tentar esconder a energia dela.
Eu apareço na frente da garota de cabelos pintados. Toco na sua barriga desmaiando-a.
— Eu sei o que você é, bruxinha. Já você menina, ainda pode escolher entre vir comigo consciente ou como ela.

Os momentos se passaram como em questão de segundos na minha cabeça. Apenas acordei para a realidade com a ação do rapaz. Levei a boca, reprimindo qualquer som de desespero que queria vir a tona, enquanto Lya se encontrava mais impotente que eu.


-Por que está agindo desta forma. - Sussurrei. - Não fizemos nada, então por que... -

— Eu não quero perder meu trabalho. Tem valor pela sua vida? Pela sua humanidade e pela sua inocência? — Digo observando a bruxa desmaiada, pensando em como levaria tantas pessoas. — Se realmente tiver é melhor cooperar. Você nem estaria viva se não fosse por mim.
Eu coloco o pé embaixo do corpo da bruxa e chuto pra cima como uma bola. O corpo levanta 3 metros do chão e cai em cima do outro "corpo" que carrego no ombro. Passo o braço por cima dela para segurar os dois.
— Desculpa — Eu seguro o braço dela e sumimos com o som do vento que diminuia minha velocidade.